Liderar é... conhecer e acreditar nos nossos!




Decorriam apenas dois a três minutos de um jogo de Playoffs quando um dos meus jogadores - mais precisamente o meu base,a extensão de mim no campo - se dirige rapidamente para mim a queixar-se do árbitro:

A: Ele insultou-me! Ele chamou-me... !!!
Eu: Tens a certeza?
A: Tenho! Ele veio ter comigo e insultou-me. Não consigo jogar com um árbitro a insultar-me! Tens que falar com ele!

Chamo o árbitro:

Eu: Sr. Árbitro, porque insultou este meu atleta?
Ref: Eu não insultei ninguém! O seu jogador está a mentir.
Eu (para o jogador A): Em que ficamos? Este senhor insultou-te ou não?
A: Insultou! Chamou-me... !!!
Ref: Não insultei! O seu jogador é mentiroso. Aconselho-o a tirá-lo do campo para que o jogo siga sem problemas.



Se fosses tu, o que farias neste momento?
Acederias à sugestão do juiz da partida, autoridade máxima na mesma?
Tentarias construir pontes de entendimento entre os dois num cenário de enorme tensão emocional?
Tomarias outra atitude? Qual?...

Aqui fica o que se passou a seguir.

Eu: Sr. Árbitro, agradeço a sugestão mas eu não lhe digo como apitar. Por isso agradeço que não me diga como gerir a minha equipa. O meu jogador não mente. Conheço-o há muito tempo e nunca me mentiu. A si estou a vê-lo hoje pela primeira vez. Não vou tirar o meu jogador. Mais, depois dessa sua acusação, não o vou tirar mais durante todo o jogo.
Eu (para o jogador A): A, por seres honesto vais jogar o jogo todo, ok? Aguenta-te!!!

O jogo seguiu sem incidentes, apesar do pavilhão ter ficado "emocionalmente incendiado" com este episódio.
O meu jogador A manteve-se em campo os 40 minutos.
No final pedi-lhe que me acompanhasse na saudação à dupla de arbitragem e que não saísse de perto de mim.
Aproximei-me dos dois árbitros, sem saber ainda o que se tinha passado em concreto para que o meu atleta se tivesse vindo queixar do árbitro no início do jogo.
Dirigi-me ao primeiro árbitro: "muito obrigado por ter segurado isto hoje; se não fosse você o espectáculo tinha ficado estragado."
Dirigi-me depois ao segundo árbitro, o tal de que o meu atleta se havia queixado: "bom jogo, senhor árbitro, mas da próxima vez não ande em campo a insultar atletas, ok?"

Seguiu-se este diálogo:

Ref: Eu não insultei ninguém!
Eu: Insultou sim. O meu atleta não mente.
Ref: Não, não insultei.
Eu: Pode insistir nisso. Mas nós os três sabemos que insultou.

(árbitro repete a negação mais uma meia dúzia de vezes; durante todo esse tempo não deixo de manter o vigoroso aperto de mão com que iniciámos a conversa; até que...)

Ref: O que eu disse ao seu atleta foi: "Eu não vou ser o... aqui hoje!!!"
Eu (após finalmente ter compreendido o que um disse e o que o outro ouviu): Cuidado com as palavras que usa em campo, senhor árbitro. Sobretudo num pavilhão cheio de barulho como este. Ele não ouviu o início do que lhe disse, só ouviu a parte má da frase. Não volte a usar essa linguagem com atletas. Nunca mais o faça, por favor. E como pode ver, ele não mente!

Durante todo este diálogo o meu atleta A esteve ao meu lado.
Após esta situação, todos os intervenientes mantiveram uma excelente relação, tanto dentro como fora de campo.

Para mim, liderar é também isto: acreditar nos nossos e ter a coragem para os defender, mesmo na ausência de provas. É escolher o lado da vulnerabilidade em vez de optar pelo lado do poder só porque sim. É não virar a cara aos meus, sobretudo quando o mundo grita para que o faça imediatamente.

E para ti, o que é liderar?
O que terias feito de diferente nesta situação?

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