Poema para o meu Filho


SE...

Se fores capaz de manter a tua calma, quando,
todos em teu redor já a perderam e te culpam.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses, contudo, achar uma desculpa.

Se fores capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais ou pretensioso.

Se fores capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando o Fracasso e o Sucesso, conseguires,
tratar da mesma forma esses dois impostores.

Se fores capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas por que deste a vida, estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se fores capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, retornar ao ponto de partida. 

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti que ainda ordena: Persiste! 

Se fores capaz de, entre o povo, não te corromperes,
e, entre Reis, não perderes a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se fores capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo o valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - serás um Homem, meu filho!

Rudyard Kipling




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