O dia em que tudo mudou...

Já há algum tempo que tinha falado com alguns colegas sobre o que fazer depois do basquetebol. Último ano de júnior. 19 anos. Época 1993/94. Sem perspectivas de continuar a jogar. 
No fim de um treino normal, eu e um colega de equipa decidimos ficar a jogar 1x1 numa tabela lateral. Os seniores treinavam depois de nós e ao fim de 2 minutos ouvimos o treinador deles a dizer bem alto: "preciso de dois juniores! Quem quer treinar connosco?" Eu e o meu colega olhámos um para o outro e nem hesitámos em oferecer-nos.
O "mindset" com que regressei ao campo onde tinha acabado de treinar durante duas horas era completamente diferente agora. Ia ter a possibilidade única de treinar, pela primeira e talvez única vez na vida, com uma equipa profissional cheia das minhas referências de então e experimentar aquilo de que falavam alguns colegas da equipa junior que faziam parte do plantel senior. As várias vontades que competiam na cabeça eram: "tens de fazer as coisas bem", "tenta que não se note muito o que não sabes fazer" e... "aproveita a experiência ao máximo porque vai ser a única vez que o farás!".
Mas a experiência não começou bem.
No primeiro exercício de 1x1 o meu colega espeta-me logo um enorme abafo no meu primeiro lançamento. Deu para ouvir uns risos e sentir alguma vergonha. Também fiquei zangado com o meu colega e amigo porque pensei que tinhamos um "pacto de não agressão" que ele tinha "violado". Podia ter colapsado aí. Mas serviu de "wake up call": se até o meu amigo me abafa, isto vai ser muito mais difícil do que eu pensava...
Long story short, participámos de forma positiva no treino todo até à altura de jogar. Nesse momento ficámos, naturalmente, de lado. Pensámos que até fosse para ir logo ali para o banho. Já tinhamos treinado quase 4 horas seguidas.
Mas disseram-nos para ficar. Obedecemos religiosamente.
Quando faltavam cinco minutos para terminar o "jogo", chamaram-nos para entrar. UAU!
A mim parecia que estava a entrar num jogo da "NBA", tal a alegria que rapidamente se voltou a transformar em foco no que tinha de executar.
Quando me passaram a primeira vez a bola nem olhei para o cesto. A defender-me estava um indivíduo mal encarado e durão. Da segunda vez que me passaram estava "aberto" e ouvi-os: "shoot!". Tinha acabado de meter o primeiro triplo. Depois o segundo e por aí fora. Quando terminou o jogo eu tinha mais triplos marcados do que os minutos jogados, sem falhar um único lançamento. Os seniores acharam piada. Todos menos um... :D
E esse foi o meu único treino com uma equipa senior antes de ter idade para o ser. Apesar da esperança, nunca mais me chamaram.
Uns meses depois a época terminou. Os seniores trocaram de treinador. O novo treinador era agora o rapaz que viu mais de perto a chuva que caiu nos últimos minutos daquele treino. O que me esteve a defender. Eu desfrutava do Verão e tentava decidir como ocupar o meu tempo agora que já não jogava basket. Poucos dias depois recebia um telefonema e percebia: aquele foi mesmo "o dia em que tudo mudou".
E para ti? Qual foi "o dia em que tudo mudou?"...
Sabe mais em www.mudaoteujogo.com

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